A primeira Missa no Brasil: das praias de Lisboa à Ilha de Vera Cruz
- Rodrigo M. de Abreu
- 24 de dez. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 27 de abr.

A descoberta do Brasil
No mundo em expansão após a idade média, numa Europa em crise, portugueses e espanhóis partiram em busca de um novo caminho comercial para as Índias e em exploração de prováveis territórios desconhecidos a oeste mar adentro, os quais haviam sido divididos via Tratado de Tordesilhas, em 1494.
A jornada que culminou na formação do Brasil teve início em 9 de março de 1500, quando partiu a frota de 13 naus liderada pelo navegador Pedro Álvares Cabral. Em 22 de abril de 1500, a expedição avistou as novas terras, o que marcou o início da presença europeia na região e deu início à construção de uma identidade para as terras recém-descobertas.
Inicialmente, Cabral batizou o local como "Ilha de Vera Cruz", sugerindo uma associação direta com a religiosidade cristã que permeava a cultura portuguesa da época. O nome fazia referência à cruz de Cristo, e buscava consagrar a terra sob a proteção divina. No entanto, com o avançar das explorações, percebeu-se que não se tratava de uma ilha, e o nome foi alterado para "Terra de Santa Cruz". Esta mudança reforçava a ideia de que a descoberta não era apenas um evento geográfico, mas também espiritual, um "chamado" para levar a fé católica a novas terras e povos.
O nome "Brasil" surgiu mais tarde, influenciado pela exploração do pau-brasil, uma madeira valiosa devido ao pigmento vermelho extraído de sua casca, usado como corante na Europa. Curiosamente, o nome carrega uma simbolismo que transcende o material: o vermelho do pau-brasil era associado ao sangue de Cristo, uma ligação implícita entre a riqueza natural da terra e o Sacrifício redentor da fé católica. Assim, mesmo com a origem econômica, o nome "Brasil" adquiriu um significado que unia o sagrado e o profano.
A Primeira Missa, celebrada em 26 de abril de 1500 por Frei Henrique de Coimbra, foi o ponto alto da chegada portuguesa. O evento, descrito nos relatos de Pero Vaz de Caminha, simbolizou a consagração da terra aos propósitos cristãos. Realizada na praia da Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália, no litoral sul da Bahia, com a cruz de madeira erguida ao centro, a Missa foi cercada de um clima de devoção. Os marinheiros e oficiais ajoelharam-se em oração, enquanto os indígenas, curiosos, observavam com respeito e surpresa.
O simbolismo da cruz não era apenas espiritual, mas também político. Era um sinal claro de que aquelas terras agora pertenciam ao reino de Portugal, sob a autoridade de Deus e da Igreja. A Missa também servia como uma introdução à catequese, pois, para os jesuítas, o gesto inaugural apontava para o dever de evangelizar os "gentios" e trazê-los à "verdadeira fé".
A interação com os povos indígenas também foi interpretada à luz do cristianismo. Os nativos, vistos como almas “puras, mas ignorantes”, foram descritos como uma população a ser resgatada do paganismo e conduzida ao caminho da salvação. Este pensamento foi o que guiou a Companhia de Jesus em sua missão catequética nas décadas seguintes.
A catequização e o trabalho de São José de Anchieta
Com a chegada da Companhia de Jesus ao Brasil (Jesuítas) em 1549, a missão de catequizar os povos indígenas ganhou forma organizada. Entre os muitos missionários que se destacaram nesse trabalho, São José de Anchieta é a figura mais emblemática. Nascido na Espanha em 1534, Anchieta ingressou na Companhia de Jesus ainda jovem e foi enviado ao Brasil em 1553, com apenas 19 anos. Sua devoção e talento logo o tornaram um líder espiritual e cultural no processo de evangelização.
Anchieta viu na catequese uma forma de integração entre os europeus e os povos nativos. Ele aprendeu as línguas locais, como o tupi, e usou seus conhecimentos para criar gramáticas e textos religiosos que facilitassem o ensino do catolicismo. Entre suas obras, destaca-se a "Gramática da Língua Tupi", uma das primeiras tentativas de sistematizar uma língua indígena.
Sua abordagem ia além do ensino religioso. Anchieta acreditava que a evangelização deveria ser acompanhada por uma transformação cultural e moral. Para isso, ele organizava aldeamentos, conhecidos como "reduções", onde os indígenas eram ensinados não apenas na fé cristã, mas também em habilidades europeias como agricultura e carpintaria.
Os relatos sobre o trabalho de São José de Anchieta destacam sua santidade e dedicação. Ele era conhecido por sua paciência e capacidade de dialogar com diferentes culturas. Diz-se que suas orações e escritos eram frequentemente inspirados por visões divinas, e sua vida é cercada de narrativas milagrosas. Em um de seus momentos mais conhecidos, durante negociações de paz com tribos hostis, o santo teria escrito um poema à Virgem Maria nas areias da praia, enquanto era mantido como refém.
O legado de São José de Anchieta é profundo. Ele não apenas contribuiu para a consolidação do catolicismo no Brasil, mas também deixou um exemplo de dedicação à educação e ao diálogo intercultural. Sua canonização pelo Papa Francisco em 2014 foi um reconhecimento de sua importância histórica e espiritual para o país.
Devido seu trabalho em território brasileiro, São José de Anchieta é o padroeiro dos catequistas e, em evento para catequistas (Catequista Brasil) realizado em Aparecida-SP em 2023, foi apresentada pelo diácono Alexandre Varela (arquidiocese do Rio de Janeiro) a seguinte oração:
ORAÇÃO PELOS CATEQUISTAS
São José de Anchieta, apóstolo e co-padroeiro do Brasil, intercede pela minha vida e pelo meu ministério. Faz com que eu, servo indigno da nobre missão de educar na fé, possa ser útil para o trabalho na vinha do Senhor.
Poeta da Virgem Maria, intercede por todos aqueles que me forem confiados, para que seus corações se tornem dóceis à Palavra de Deus, como foi o da Virgem Santíssima.
Padroeiro dos catequistas, concede-me a graça de receber do Espírito Santo a sabedoria e a fortaleza necessárias para ensinar com as palavras e com a vida.
Que através da sua intercessão, o Senhor purifique os meus pensamentos, inspire as minhas palavras e inflame o meu coração com o seu amor.
Amém.
Assim, com o intuito de facilitar o acesso dos brasileiros à Santa Eucaristia e aos demais sacramentos, esse site colaborativo irá catalogar as paróquias do Brasil por diocese e informará horários e meios de contato.
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