O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA (pt. 3)
- Rodrigo M. de Abreu
- 18 de abr.
- 3 min de leitura

O Sacrifício Definitivo: De Rituais Antigos ao Dom Supremo da Cruz
Por que o sacrifício de Cristo é o cumprimento perfeito de todos os sacrifícios anteriores
Após o exílio babilônico e a destruição do Primeiro Templo em 586 a.C., o povo judeu experimentou uma profunda transformação em sua prática religiosa. Com a impossibilidade de realizar os sacrifícios rituais, desenvolveram-se novos caminhos de culto centrados na oração, no estudo da Torá e no arrependimento sincero. Esta transformação preparou o terreno para uma compreensão mais profunda do sacrifício que seria revelada plenamente em Jesus Cristo.
Da Prefiguração à Realização
O historiador católico Henri Daniel-Rops, em sua obra "A Vida Cotidiana na Palestina no Tempo de Jesus", descreve como os sacrifícios do Antigo Testamento eram "sombras e figuras" que apontavam para uma realidade maior. O que os rituais judaicos simbolizavam, Cristo realizou em plenitude.
Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI), em seu livro "Jesus de Nazaré", explica essa continuidade e ruptura:
"O sacrifício de Cristo não é a abolição, mas o cumprimento radical dos sacrifícios do Antigo Testamento. O elemento de substituição que estava presente em todas as religiões – oferecer algo em lugar de si mesmo – é levado à sua verdade profunda: é o próprio Filho de Deus que se oferece."
A Perfeição do Sacrifício Único
Santo Tomás de Aquino, na Suma Teológica (III, q. 22), desenvolve magistralmente este tema quando explica que Cristo é simultaneamente o sacerdote que oferece e a vítima oferecida. Enquanto os sacrifícios antigos eram múltiplos e repetidos, o sacrifício de Jesus é único e definitivo.
"O sacrifício exterior que se oferece é sinal do sacrifício interior pelo qual alguém se oferece a si mesmo a Deus. Cristo ofereceu a si mesmo pela nossa salvação, e por isso tudo o que fez em sua humanidade foi salvífico para nós."
Santo Agostinho, em "A Cidade de Deus" (Livro X), complementa esta visão ao afirmar que Cristo é "o verdadeiro sacrifício", aquele que reconcilia perfeitamente a humanidade com Deus:
"O verdadeiro sacrifício é toda obra que fazemos para nos unirmos a Deus numa santa comunhão, ou seja, toda obra relacionada àquele Sumo Bem pelo qual podemos ser verdadeiramente felizes. Por isso, o próprio homem, consagrado e dedicado a Deus, é um sacrifício."
Da Obrigação Legal ao Dom do Amor
São João Crisóstomo, doutor da Igreja, enfatiza a superioridade do sacrifício de Cristo sobre os sacrifícios rituais. Enquanto estes eram obrigações legais, aquele é expressão suprema do amor divino:
"No Antigo Testamento, derramava-se o sangue de cordeiros; agora, o próprio Cristo ofereceu-se como vítima. O valor infinito de sua pessoa dá ao seu sacrifício um valor também infinito."
São Bernardo de Claraval elabora sobre a dimensão transformadora deste sacrifício único:
"O que admiramos no sacrifício de Cristo não é tanto o que foi dado, mas a maneira como foi dado."
O Sacrifício Eucarístico: A Memória Perpétua
Daniel-Rops descreve com precisão como o sacrifício de Jesus não ficou apenas como evento histórico, mas perpetua-se na Igreja através da Eucaristia. Como explica o Concílio de Trento, citado pelo Cardeal Ratzinger em "O Espírito da Liturgia":
"Na divina Eucaristia realiza-se aquele sacrifício da cruz cujo memorial permanecerá até o fim dos tempos, e por ele se aplica a salvação para a remissão dos pecados que cometemos diariamente."
São João Paulo II, na encíclica "Ecclesia de Eucharistia", sintetiza esta conexão:
"A Eucaristia é verdadeiramente um vislumbre do céu na terra. É um raio glorioso da Jerusalém celestial que penetra nas nuvens de nossa história e lança luz sobre nosso caminho."
Conclusão: Da Sombra à Luz
A evolução dos sacrifícios religiosos ao longo da história chegou ao seu ápice no Calvário. O que era parcial tornou-se completo; o que era simbólico tornou-se real; o que era transitório tornou-se eterno. Como magistralmente sintetiza São Leão Magno:
"O que era visível em nosso Redentor passou para os sacramentos; e para tornar a fé mais perfeita e mais firme, ao ensino sucedeu a autoridade, de modo que agora acreditamos com o coração o que antes percebíamos com os olhos."
O sacrifício de Jesus Cristo não é apenas o ponto culminante de uma evolução religiosa, mas a revelação definitiva do amor divino que transforma nossa compreensão do próprio significado de sacrifício: não mais um ritual para aplacar um deus distante, mas a entrega amorosa que nos permite participar da própria vida divina.
CONTINUA...
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