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O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA (pt. 4): A Missa no Início do Cristianismo

  • Foto do escritor: Rodrigo M. de Abreu
    Rodrigo M. de Abreu
  • 19 de mai.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 10 de ago.


Afresco na cripta de Santa Lucina.
Afresco na cripta de Santa Lucina.

A Evolução da Santa Missa nos Primeiros Cinco Séculos


Introdução


A Santa Missa, centro da vida litúrgica católica, não surgiu como um ritual completo e detalhado, mas desenvolveu-se organicamente a partir das práticas dos primeiros cristãos. Nos cinco primeiros séculos da Igreja, testemunhamos a evolução gradual do que começou como uma refeição comunitária em memória de Cristo para uma liturgia estruturada que carregava os elementos essenciais que persistem até hoje.


As Origens Apostólicas (Século I)


O fundamento da Missa encontra-se nas próprias ações de Cristo durante a Última Ceia, quando Ele instituiu a Eucaristia. Como descreve São Paulo na sua Primeira Carta aos Coríntios (escrita por volta de 56 d.C.):


"Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: 'Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim'" (1 Cor 11,23-24).

A Didaqué (ou "Doutrina dos Doze Apóstolos"), documento cristão do final do século I, oferece as primeiras instruções litúrgicas fora do Novo Testamento. No capítulo 9, encontramos orações eucarísticas que demonstram a compreensão da Eucaristia como sacrifício:


"Quanto à Eucaristia, dai graças deste modo… Esta é a carne e o sangue de Jesus, vosso Filho. Glória a ti pelos séculos."

São Justino Mártir (100-165 d.C.), em sua Primeira Apologia (escrita por volta de 155 d.C.), fornece o primeiro relato detalhado da celebração eucarística dominical:


"No dia que se chama do Sol, celebra-se uma reunião de todos os que moram nas cidades ou nos campos, e aí se lêem, enquanto o tempo o permite, as memórias dos Apóstolos ou os escritos dos Profetas. Quando o leitor termina, o presidente toma a palavra para aconselhar e exortar à imitação dessas belas coisas. Em seguida, levantamo-nos todos juntos e elevamos nossas preces."

A Liturgia Primitiva (Séculos II-III)


Como observa Henri Daniel-Rops em "A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires", a liturgia primitiva ocorria em duas partes distintas:


  1. Liturgia da Palavra: influenciada pelo serviço sinagogal judaico, incluía leituras das Escrituras, salmos, homilia e orações dos fiéis, e;

  2. Liturgia Eucarística: a celebração do memorial da Ceia do Senhor, com a consagração do pão e do vinho.


Santo Hipólito de Roma, em sua "Tradição Apostólica" (215 d.C.), fornece a mais antiga anáfora (oração eucarística) completa que conhecemos, contendo já os elementos essenciais que persistem nas atuais orações eucarísticas.


A celebração inicialmente ocorria em casas particulares (domus ecclesiae) e, durante as perseguições, nas catacumbas. Santo Inácio de Antioquia (35-107 d.C.) já enfatizava a importância de celebrar a Eucaristia sob a presidência do bispo como sinal de unidade da Igreja.


Desenvolvimento Pós-Constantino (Séculos IV-V)


Com o Édito de Milão (313 d.C.) e a liberdade de culto, ocorreram importantes desenvolvimentos:


  1. Construção de basílicas para as celebrações litúrgicas;

  2. Enriquecimento dos ritos com maior solenidade;

  3. Padronização regional das formas litúrgicas.


São Cirilo de Jerusalém (313-386 d.C.), em suas "Catequeses Mistagógicas", fornece descrições detalhadas da liturgia celebrada em Jerusalém, incluindo a preparação para o Batismo e a primeira Comunhão dos neófitos.


Santo Ambrósio de Milão (340-397 d.C.), em seu tratado "Sobre os Sacramentos", descreve elementos da liturgia milanesa, que formaria a base do rito ambrosiano.


São João Crisóstomo (347-407 d.C.) contribuiu significativamente para o desenvolvimento da liturgia no Oriente, e a anáfora que leva seu nome continua sendo utilizada nas Igrejas Orientais.


As Grandes Liturgias Regionais


No final do século V, grandes famílias litúrgicas já estavam consolidadas:


  1. Liturgia Romana: mais sóbria e direta, predominante em Roma e arredores;

  2. Liturgia Galicana: na Gália (atual França), com influências do Oriente;

  3. Liturgia Hispânica (ou Moçárabe): na Península Ibérica;

  4. Liturgia Ambrosiana: em Milão e região;

  5. Liturgias Orientais: Bizantina, Alexandrina, Antioquena, entre outras.


Como observa Santo Agostinho (354-430 d.C.), apesar das diferenças rituais, a essência da celebração eucarística permanecia a mesma:


"Sob diversos ritos, é o mesmo sacrifício que se celebra em todo o mundo."

Elementos Permanentes

Ao final do século V, já estavam firmemente estabelecidos os elementos essenciais da Missa que permanecem até hoje:


  1. A estrutura básica dividida em Liturgia da Palavra e Liturgia Eucarística;

  2. As leituras bíblicas seguidas de homilia;

  3. A apresentação das oferendas;

  4. A Prece Eucarística com narrativa da instituição;

  5. A fração do pão e a comunhão.


Conclusão


Como afirma o Catecismo da Igreja Católica (§1345), "desde o século II, temos o testemunho de São Justino Mártir sobre as grandes linhas do desenrolar da Celebração Eucarística. Estas permaneceram as mesmas até nossos dias, através de todas as diversidades de tradições litúrgicas."


O desenvolvimento da Missa nos primeiros cinco séculos demonstra a fidelidade da Igreja Católica ao mandato de Cristo de "fazer isto em memória de mim", adaptando as formas exteriores de culto às necessidades dos tempos e culturas, mas preservando sempre a essência do mistério eucarístico.





CONTINUA...




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